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Possível mudança na fórmula da Coca-Cola nos EUA pode abrir mercado para açúcar de cana do Brasil
A substituição do xarope de milho por açúcar de cana nas bebidas americanas pode beneficiar o setor sucroenergético brasileiro, mas depende de alterações nas tarifas de importação dos EUA.
O anúncio feito por Donald Trump, em 16 de julho de 2025, na plataforma Truth Social, reacendeu o debate sobre o uso do açúcar de cana nos Estados Unidos e gerou expectativas no setor sucroenergético brasileiro. Trump afirmou que a Coca-Cola concordou em substituir o xarope de milho de alta frutose (HFCS) pelo açúcar de cana nas bebidas vendidas nos EUA, embora a empresa ainda não tenha confirmado essa mudança.
Potencial de crescimento e desafios tarifários
Mário Campos, presidente da Associação da Indústria da Bioenergia e do Açúcar de Minas Gerais (SIAMIG Bioenergia), destaca que, para que o Brasil, maior produtor mundial de açúcar de cana, se beneficie dessa mudança, será necessário que haja alterações nas tarifas de importação americanas, que podem até aumentar após 1º de agosto. Campos explica que o xarope de milho é protegido nos EUA devido à proteção agrícola local e que o açúcar brasileiro enfrenta altas tarifas, exceto por uma cota limitada de 1,6 milhão de toneladas no mundo todo, da qual o Brasil detém 150 mil toneladas.
Ele ressalta que o Brasil produz cerca de 44 milhões de toneladas de açúcar por ano, com 10 milhões para o consumo interno e 34 milhões para exportação. Para que a mudança tenha impacto significativo, seria necessário ampliar a cota americana para importar entre 1 milhão e 2 milhões de toneladas do açúcar brasileiro.
Histórico e exportações recentes
Embora a média anual de exportação brasileira para os EUA seja de cerca de 300 mil toneladas, entre cota e açúcar orgânico, nos últimos dois anos o Brasil exportou cerca de 1 milhão de toneladas por ano. Isso aconteceu devido a problemas na produção interna dos EUA e do México, que elevaram os preços e tornaram viável a importação brasileira mesmo com tarifas elevadas. Segundo Campos, para ampliar a exportação em larga escala, seria necessário negociar com o governo americano a extensão da cota ou a redução das tarifas.
Consumo de açúcar e preferência do consumidor
Diferentemente dos EUA, no Brasil a maioria das bebidas adoçadas usa açúcar de cana. O mesmo ocorre em países como México, Reino Unido e Austrália. A Coca-Cola mexicana, por exemplo, é vendida nos EUA a preços mais altos, com o argumento de ser mais saborosa pelo uso do açúcar de cana. Campos afirma que há uma preferência dos consumidores americanos pelo açúcar de cana por ser considerado mais natural. Ele acredita que, se a Coca-Cola realmente alterar sua fórmula, outras marcas como a Pepsi podem seguir essa tendência.
Pressões e preocupações nos EUA
Robert F. Kennedy Jr, secretário de Saúde dos EUA, tem pressionado empresas a remover ingredientes como xarope de milho, óleos de sementes e corantes artificiais, associados a problemas de saúde. Ele também planeja revisar as diretrizes alimentares nacionais devido ao alto consumo de açúcar. Entretanto, produtores americanos de milho temem perdas econômicas com a possível substituição do xarope de milho, pois isso poderia custar milhares de empregos e aumentar as importações de açúcar estrangeiro, sem benefícios nutricionais, segundo John Bode, presidente da Associação de Refinadores de Milho.
Impactos das tensões comerciais entre Brasil e EUA
O anúncio de Trump ocorre em meio a escalada das tensões comerciais entre Brasil e EUA, com a promessa de tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros. Isso pode inviabilizar a atual cota de exportação de açúcar e afetar o envio de etanol ao mercado americano, setor em que Brasil e EUA competem diretamente. Campos alerta que a tarifa poderia dificultar até a pequena cota atual, que deveria ser livre de tarifas. Ainda assim, ele vê possibilidade de diálogo para uma negociação envolvendo açúcar e etanol, que poderia abrir espaço maior para o Brasil no mercado americano.