O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, tornou-se figura central no governo Lula diante do conflito comercial aberto pelos Estados Unidos contra o Brasil. Com a imposição de uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, setores diversos veem em Alckmin um negociador habilidoso para ampliar as exceções à tarifa, atualmente incluindo quase 700 itens.

Atuação e interlocução

Designado para articular os interesses brasileiros logo após a posse de Donald Trump, Alckmin conta com um canal direto com o presidente Lula e mantém boa interlocução com o setor privado, o que lhe confere legitimidade no papel. Em março, ele participou de uma videoconferência com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e o representante comercial americano, Jamieson Greer, numa tentativa de impedir a aplicação das tarifas. Antes disso, já havia conversado sobre o tema com o senador Steve Daines, aliado de Trump.

Reforço nas negociações e reconhecimento

As negociações ganharam força em julho, pouco antes da confirmação do aumento da alíquota. Alckmin intensificou encontros com representantes da indústria, agronegócio e tecnologia, além de conceder entrevistas regularmente. O presidente Lula reconheceu o vice como um "exímio negociador, que não levanta a voz e não manda carta, ele só quer conversar".

Desafios e perspectivas

Apesar da confirmação da sobretaxa, que isenta derivados de petróleo, produtos de aviação civil e suco de laranja, produtos como carnes, café e pescado continuam taxados. Auxiliares do governo apontam que a falta de um canal direto com a Casa Branca dificulta a negociação, mas Alckmin declarou que o diálogo está apenas começando. Ele adotou um tom descontraído ao afirmar: "A minha especialidade é anestesia".

Reconhecimento do setor privado

Empresários destacam a experiência e capacidade conciliadora do vice. Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer, elogia o engajamento de Alckmin e a ampliação das exceções tarifárias que beneficiam a empresa. Marcos Matos, do Cecafé, e Salesio Nuhs, da Taurus, também demonstram confiança nas habilidades do vice-presidente, ressaltando sua equipe técnica competente e conhecimento econômico.

Impacto político e apoio

Flávio Roscoe, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, enfatiza que Alckmin é uma solução e que o problema estaria na postura combativa do presidente Lula. Na cúpula do Brics, Lula comparou Trump a um imperador, mas destacou a importância do diálogo que Alckmin promove. O vice-presidente também recebe reconhecimento, inclusive de membros da oposição, pela sua postura equilibrada e capacidade de negociação.

Desafios internos e futuro

Apesar da legitimidade conquistada, algumas resistências internas persistem, como o cancelamento de uma reunião de governadores para discutir estratégias contra o tarifaço. O episódio não representa resistência a Alckmin, mas uma descrença na solução imediata do problema. A exposição de Alckmin fortalece seu nome para a vice-presidência em 2026, embora aliados reconheçam que ainda há muitos desafios pela frente.