A Igreja Católica no Brasil passa por uma transformação significativa: a maioria dos padres e bispos formados a partir dos anos 1990 se distancia do estilo do papa Francisco e se alinha mais ao pensamento de seus predecessores, João Paulo II e Bento XVI. Além disso, a Teologia da Libertação, que antes tinha forte ressonância nas comunidades, perdeu seu espaço e influência.

Um Novo Rosto do Clero

A pesquisa intitulada “O novo rosto do clero – Perfil dos padres novos no Brasil”, coordenada em 2021 pelo padre Agenor Brighenti, revela que enquanto 49,5% dos padres mais antigos veem a Teologia da Libertação como uma dimensão social do Evangelho, apenas 16,4% dos sacerdotes mais jovens compartilham dessa visão. O estudo mostra que a maioria dos padres formados recentemente tem uma postura mais moderada e conservadora, refletindo uma guinada ideológica no clero brasileiro.

A Influência do Vaticano

Apesar do papa Francisco ser reconhecido como um líder progressista, a maioria dos bispos brasileiros nomeados por ele se mostra moderada ou conservadora. Um levantamento feito pelo teólogo Manoel Godoy explica que apenas 20 dos bispos nomeados podem ser considerados progressistas. O papa, embora tenha o poder de nomear, não controla totalmente os indicados, que frequentemente são recomendados pela Nunciatura Apostólica.

História de Conservadorismo

A Igreja Católica no Brasil já foi um bastião do progressismo na América Latina, mas começou a mudar sua postura no final dos anos 1980. Uma das primeiras ações do Vaticano para conter a Teologia da Libertação foi a divisão da Arquidiocese de São Paulo em 1989, que resultou na nomeação de bispos conservadores em áreas antes dominadas por líderes progressistas. Essa mudança teve impacto direto nas comunidades e movimentos sociais que tradicionalmente defendiam os direitos dos pobres.

Teologia da Libertação em Declínio

Com a morte de bispos icônicos e a substituição por figuras mais conservadoras, a Teologia da Libertação passou a ser vista com desconfiança. Teólogos como Leonardo Boff, que criticaram a relação da Igreja com o poder, foram silenciados e tiveram seus trabalhos censurados. Os papas João Paulo II e Bento XVI, durante seus longos pontificados, exerceram forte influência para minimizar a relevância dessa corrente dentro da Igreja.

A Nova Geração de Padres

O atual perfil dos padres brasileiros, que frequentemente adotam vestimentas tradicionais e se afastam da imagem do clérigo progressista, representa uma nova fase da Igreja Católica no Brasil. Frei Betto aponta que a geração atual, formada durante os períodos de pontificados conservadores, reflete uma Igreja que se posiciona mais ao centro do espectro político e religioso.