O economista-chefe de uma das maiores instituições financeiras americanas participou recentemente de uma reunião com clientes sem a habitual apresentação repleta de dados e gráficos. Ele explicou que, embora pudesse discutir os riscos e a direção mais provável da economia, não era capaz de fornecer números precisos. Essa situação, relatada ao PlatôBR por um dos participantes do encontro, ilustra bem a dificuldade enfrentada por analistas, economistas e empresários em realizar previsões diante da incerteza gerada pela política de tarifas imposta pelo presidente americano Donald Trump.

Reações e Impactos

“Na dúvida, ninguém mexe em nada e todos ficam com muita cautela”, afirmou um membro do governo brasileiro, evidenciando que a equipe econômica também enfrenta dificuldades semelhantes. “O grau de confiança nos cenários futuros traçados atualmente é muito menor do que era há um mês”, completou. O problema é a ausência de cenários alternativos, uma vez que tudo muda rapidamente. Com isso, poucos se arriscam a atualizar projeções, preferindo manter os cenários anteriores e aguardar mais informações.

Projeções em Baixa

Um exemplo dessa hesitação é a pesquisa Focus, que reflete as estimativas de analistas do mercado financeiro sobre os principais indicadores econômicos. Há um mês, a projeção para o IPCA, índice de referência para a inflação, em 2025, não apresentava alterações, mas agora já mostra uma leve queda. O mesmo acontece com as previsões para o PIB, que estão cada vez mais incertas. “Hoje, não dá para mensurar com certo grau de certeza o que acontecerá daqui a 6 meses”, afirmou a mesma fonte.

Críticas e Desafios do FMI

O Fundo Monetário Internacional (FMI) se atreveu a revisar sua perspectiva econômica mundial, reduzindo a projeção de crescimento dos Estados Unidos em cerca de 1 ponto percentual, agora fixada em 1,8% para 2025. Essa revisão foi recebida com ceticismo por muitos, que acreditam que a extensão dos danos causados pela política de tarifas de Trump ao mercado consumidor americano, que representa 70% do PIB do país, está sendo subestimada.

Incertezas Econômicas

Os efeitos secundários esperados na economia dos EUA incluem uma diminuição no consumo da população, que verá sua renda afetada pelo aumento dos preços, uma menor disposição das empresas para investir devido a problemas de planejamento, fornecimento e consumo, além de uma queda nas contratações e um aumento de demissões em alguns setores. “Medir isso não é viável. Nenhum modelo consegue lidar com tantas variáveis reagindo a um choque de maneira confiável”, destacou um diretor de um grande banco estrangeiro.

Retaliações e Medo de Previsões

Além da complexidade das previsões, alguns também expressam receio de retaliações por parte do governo Trump. “Se alguém calcular uma queda de 2% no PIB dos Estados Unidos, terá coragem de divulgar isso e se arriscar a uma briga com Trump?”, questionou o diretor.