Com a sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos à manga brasileira, uma possibilidade é que o consumidor brasileiro encontre a fruta mais barata no varejo no segundo semestre de 2025. A medida anunciada pelo presidente Donald Trump poderá aumentar a oferta do produto no mercado interno. Para equilibrar a situação, pode haver um aumento da demanda pelo produto, similar ao que ocorreu com o morango durante a popularização da sobremesa "morango do amor".

Contexto da tarifa e impacto no mercado

Thiago de Oliveira, chefe da seção de economia da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), comentou que "alguém vai ter que criar, por exemplo, a manga do amor, a geleia de manga, um desafio de quem consegue tirar mais rápido o caroço da manga, essas tendências para aguentar o volume da produção". Segundo ele, as mangas comercializadas no mercado nacional já apresentam uma redução de preços de cerca de 30%. A safra da variedade tommy, que é muito exportada para os EUA, deve começar em agosto.

Além disso, Oliveira destacou a influência da mídia nos preços atuais, que antes dependiam principalmente do clima. Ele exemplifica: "O preço do morango quase dobrou no atacado na semana de pico do morango do amor, e o volume de vendas chegou a quintuplicar para alguns vendedores da Ceagesp". Essa alta na demanda e preço beneficiou os produtores que esperavam uma queda nos preços.

Novas tendências com a 'manga do amor'

A chamada "manga do amor" já é uma realidade para algumas pessoas, que adaptaram a receita original usando ingredientes mais acessíveis como banana, abacaxi e a própria manga. A criadora de conteúdo Laura Tavares de Faria, 27 anos, disse que é apaixonada pela manga e criou uma versão do morango do amor com essa fruta, utilizando açúcar cristal colorido para a calda.

A chef Miriele Milani, da Milani Pink Doceria, afirmou que a combinação de manga com morango é "perfeita" e que sua receita de teste superou a tradicional. Ela recomenda usar frutas frescas no recheio para realçar o sabor e melhorar a textura do brigadeiro.

Nem todos preferem a manga com brigadeiro branco; por exemplo, a empresária Beatriz Costa prepara a manga do amor sem o brigadeiro, e Iara Lúcia Pinheiro compartilha uma versão salgada, consumida com sal e pimenta, típica do Nordeste.

Desafios e perspectivas para os produtores

Apesar da expectativa de queda nos preços, não há garantia de que isso ocorrerá, pois alguns produtores podem optar por deixar a manga apodrecer no pé para evitar custos de transporte e mão de obra. Oliveira alerta sobre os riscos dessa prática, que pode causar pragas e prejudicar futuras safras.

O Vale do São Francisco é o maior produtor no país, mas o custo logístico para transportar a manga do Nordeste para outras regiões do Brasil pode ser um problema. Pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) também não veem viabilidade em redirecionar as exportações para outros mercados devido a problemas logísticos e saturação em outros continentes.

Em 2024, o Brasil exportou 36,8 mil toneladas de manga para os EUA, representando quase 15% da produção total. Manga, uva e frutas processadas compõem 90% das frutas exportadas para os EUA.

Outras frutas na tendência das sobremesas

Além da manga, outras frutas como uva, abacaxi, açaí e tomate também estão ganhando espaço em versões similares ao "morango do amor". A chef Miriele Milani já testou combinações com maracujá, pistache e mexerica, que podem se tornar mais populares nos próximos meses.