O mineiro sabe apreciar uma boa comida, seja em casa, no bar, restaurante ou lanchonete, e isso se reflete na rica gastronomia de Belo Horizonte. A capital mineira foi reconhecida pela Unesco como Cidade Criativa da Gastronomia, destacando sua tradição culinária que mescla clássicos preservados e inovações, desde petiscos de botecos até pratos sofisticados.

O Kaol: símbolo da vida boêmia

Um exemplo emblemático é o Kaol, prato clássico servido há décadas no Café Palhares. Criado nos anos 50, ele é composto por arroz, ovo, linguiça e cachaça, nomeado com a letra 'K' para dar mais pompa, segundo o compositor Rômulo Paes. Inicialmente uma quitanda, o local ficou famoso pelo cachorro-quente e pela criação do Kaol pelos próprios funcionários para consumo na madrugada. Atualmente, o prato é servido em versões com linguiça, pernil, língua de boi, dobradinha ou carne cozida, com cerca de 420 a 450 porções diárias.

Suflês franceses com toque mineiro

No restaurante Taste-Vin, inaugurado em 1988, o suflê é uma especialidade que conquistou Belo Horizonte, com mais de dez tipos disponíveis, inclusive doces. Inspirado no bistrô francês Marcel de São Paulo, o restaurante oferece o suflê Taste-Vin, com camarões, champignon de paris e queijo gruyère, além do suflê de queijo Serra do Salitre com pimenta dedo-de-moça, uma fusão entre França e Minas Gerais.

Tradição no espaguete à bolonhesa

O Bar do Bolão, no bairro Santa Tereza, vende o espaguete à bolonhesa mais tradicional da cidade desde 1961. Fundado pela família Rocha, o prato único do cardápio conquistou a clientela e ultrapassou a rota gastronômica local, tornando-se roteiro turístico. Márcia Rocha, de 70 anos, ainda prepara o prato diariamente, mantendo a tradição familiar viva.

O Filé Surprise e a voz dos clientes

Na Casa dos Contos, na Savassi, o Filé Surprise, prato clássico desde os anos 60, é composto por filé empanado recheado, banana empanada, batata frita, ovos e arroz à piamontese. A substituição do arroz original pelo arroz à piamontese ocorreu após pedidos frequentes dos clientes, o que ajudou a consolidar a fama do prato. Entre 80 e 100 porções são servidas aos domingos, tanto no salão quanto no delivery.

Fígado com jiló no Mercado Central

O Bar da Lora, no Mercado Central, é famoso pelo fígado com jiló, prato que já fazia sucesso quando Eliza Cristina Fonseca assumiu o bar há 21 anos, enfrentando críticas por ser mulher na função. O prato surgiu da combinação popular entre fígado, carne barata, e jiló, aproveitando produtos que caíam durante o abastecimento do Mercado. A proprietária atribui o sucesso ao uso de carne de qualidade e, principalmente, ao amor na preparação.

Doces memórias no Automóvel Clube

No restaurante do Automóvel Clube de Minas Gerais, a banana flambada com sorvete é servida desde a década de 50, evocando memórias afetivas dos clientes. Sob comando do chef Nélio Eustáquio Rezende há quase 25 anos, o local preserva as técnicas tradicionais para manter a identidade dos pratos. A banana flambada é preparada ao lado do cliente, proporcionando um espetáculo visual e gustativo. O restaurante funciona para almoço nos dias de semana e sob demanda aos sábados, sendo necessário reservar a sobremesa com antecedência.

Receita da banana flambada com sorvete

Ingredientes: 2 bananas caturras maduras, 2 bolas de sorvete de creme, 4 colheres de açúcar, 1 colher de manteiga, 200ml de suco natural de laranja, 1 concha pequena ou colher de sopa de Cointreau.

Modo de preparo: Derreta a manteiga com o açúcar até dourar. Adicione o suco e reduza até formar calda. Cozinhe as bananas na calda e sirva com sorvete. Para flambar, acenda o Cointreau na concha pequena e despeje sobre o sorvete.