O comportamento do consumidor brasileiro tem passado por transformações visíveis nos hábitos alimentares, preferências de sabores e formatos de consumo cultural. Exemplos como a adoção do brunch, a valorização do pistache em confeitaria e o sucesso do brinquedo colecionável Labubu ilustram esse movimento. Surge a questão: será que o Brasil está perdendo sua identidade?

A popularização do brunch no Brasil

O brunch, tradicionalmente uma combinação de café da manhã com almoço da cultura americana, vem conquistando espaço na rotina dos brasileiros. A Bulegreen, empresa americana fundada em 2018 e presente no Brasil desde 2023, é uma das pioneiras na disseminação dessa prática. Segundo os sócios Carlos Ribeiro e Vagner de Carli, “Nós somos dos Estados Unidos, somos os fundadores da Bulegreen, uma empresa que serve brunch o dia inteiro”.

Enquanto o café da manhã brasileiro é marcado por itens rápidos e acessíveis como pão francês, café coado e frutas, o brunch propõe uma experiência mais calma, com pratos elaborados e, geralmente, um custo maior. Inicialmente restrito a centros urbanos e classes média e alta, o brunch tem se tornado uma experiência de lazer, ultrapassando a função meramente alimentar. O momento é valorizado também socialmente, frequentemente compartilhado em redes sociais, incluindo elementos como ambientação e tempo de permanência diferenciados.

Inovação da Bulegreen e expansão do brunch no Brasil

A unidade da Bulegreen em Florianópolis funciona inclusive no período noturno. Como explica Vagner, “A gente conseguiu transformar uma cultura que era só de final de semana para um espaço todos os dias, o dia inteiro”. O interesse pelo brunch no jantar se dá pela busca por refeições fora do convencional, conforme ressaltado: “É justamente pelo fato de ser algo que foge do trivial. É algo que é diferente.”

O cardápio da rede traz itens como bacon, ovos, waffles, panquecas, brisket e salmão, tudo produzido em uma cozinha sem fogão, com equipamentos de alta tecnologia. “Nós não somos um fast food. A gente se define como um fine food.” A expansão prevista inclui novas unidades em cidades como Belo Horizonte, resultado de estudos de geomarketing que indicaram regiões promissoras.

Novas tendências no consumo brasileiro

Além do brunch, o pistache tem ganhado destaque como sabor em confeitaria, sendo incorporado em sobremesas, cafés e doces mais sofisticados, o que indica uma mudança de percepção e valorização desse ingrediente. Redes com produtos inspirados em modelos americanos, como a American Cookies, também cresceram, oferecendo cookies grandes e recheios variados.

Fora do campo alimentar, o fenômeno do brinquedo colecionável Labubu, de origem asiática, demonstra a influência global no mercado brasileiro. Consumidores formam filas para adquirir edições limitadas, embaladas por estratégias de marketing como escassez programada e impulsionadas por influenciadores e plataformas de e-commerce.

A transformação do consumo no Brasil

Essas mudanças refletem um processo amplo de internacionalização e digitalização dos hábitos de consumo. O acesso imediato a conteúdos globais, a expansão do comércio eletrônico e a busca por experiências enriquecedoras são vetores que impulsionam a adoção de tendências internacionais. Ainda assim, as marcas adaptam seus conceitos ao contexto brasileiro, como destaca Vagner: “A gente percebeu que não tinha nada com o mesmo conceito que a gente faz. Que é servir brunch o dia inteiro, ou seja, esse casamento do café da manhã com o almoço”.

O cenário atual mostra um consumidor brasileiro, especialmente nas grandes cidades, que participa de um circuito global de consumo, impactando setores como alimentação, moda, brinquedos e entretenimento, ao mesmo tempo em que impõe suas próprias adaptações e identidades locais.