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Fonte da imagem: https://www.otempo.com.br/content/dam/otempo/editorias/economia/2024/4/economia-conta-de-luz-ministerio-de-minas-e-energia-energia-eletrica-1714200185.jpeg
Energia elétrica industrial cresce quatro vezes mais que a inflação; setor alerta para impactos
A alta da tarifa industrial pressiona preços de bens e serviços essenciais, afetando competitividade e consumidores
O mês de julho iniciou com destaque para o aumento da conta de luz, que permanece com bandeira vermelha, refletindo tarifas mais altas conforme determinação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Enquanto isso, milhares de famílias em Minas Gerais e em todo o país passam a ser isentas do pagamento da conta de energia, graças a uma nova Medida Provisória (MP) que entrou em vigor no dia 5 de julho de 2025.
Alta da energia para a indústria e seu impacto
Paralelamente a essas mudanças, o preço da energia elétrica para o setor industrial segue em uma trajetória de alta contínua. Desde os anos 2000, o custo da energia na indústria cresceu quatro vezes mais do que a inflação oficial do país. De 2000 a 2024, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 326%, enquanto a energia elétrica cobrada da indústria aumentou 1.299%, conforme estudo recente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (Abrace Energia), elaborado pela Ex Ante Consultoria Econômica.
Essa elevação, sem o repasse integral ao consumidor, provoca perda de competitividade no setor industrial, o que pode resultar em menos investimentos e oportunidades de emprego no longo prazo, alerta Sérgio Pataca, consultor de mercado de energia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). "A energia é um grande fator de perda de competitividade industrial. No Brasil, tivemos um aumento muito acima da inflação, enquanto na Europa e nos EUA houve preços razoáveis", explica Pataca, ressaltando que nesses países a inflação média foi de 375%, cerca de um terço do índice brasileiro.
Repercussões para o consumidor residencial e cadeia produtiva
O impacto da inflação da energia também atinge as famílias, com a energia residencial aumentando 393,41% no período de 2000 a 2024, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, os custos elevados da energia se refletem em outros produtos e serviços, pois dois terços do gasto com energia dos brasileiros são indiretos, embutidos em preços de bens e serviços. Isso ocorre porque indústria e comércio repassam parte dos custos de energia para os consumidores finais.
Por exemplo, quase 30% do preço médio do pão francês é resultado do custo de energia, conforme pesquisa da Abrace. No saneamento básico, a energia representa 53,5% do custo, já que todo o processo de tratamento e distribuição de água depende de energia elétrica e insumos que também utilizam gás natural. Victor IOcca, diretor de energia elétrica da Abrace, explica: "A regra geral é que a indústria não repassa o custo de uma única vez. Ela vai absorvendo parte dele".
Desafios para as famílias e desigualdade no impacto
Consumidores sentem o peso da alta dos custos de energia. A auxiliar de limpeza Sandra Bernardes comenta: "Pesa bastante. As coisas estão muito caras, então a gente fica em uma situação muito desconfortável. Você paga as contas e tem que priorizar água, luz e gás e quase não sobra nada para alimentação. A conta sempre fica para nós, a parte mais desfavorecida". O entregador Matheus Filipe acrescenta que economizar energia é difícil: "A gente precisa de energia para tudo, até para se comunicar. Então, é muito difícil tentar economizar. A gente tenta, mas é muito complicado".
A alta da energia afeta mais as famílias de baixa renda, pois elas destinam uma parcela maior do orçamento para a conta de luz. A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG) mostra que, em Belo Horizonte, a energia é o nono item com maior peso no índice geral de inflação (3,32%), mas sobe para a quarta posição (5%) quando se considera apenas famílias com renda de até cinco salários mínimos.
Medida Provisória e debate sobre a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE)
Desde 5 de julho, a Medida Provisória 1.300/2025 amplia o público beneficiado pela Tarifa Social de Energia, que isenta famílias cadastradas no CadÚnico do pagamento da conta de luz. Para financiar essa isenção, estimada em R$ 3,6 bilhões, o governo ampliará a arrecadação da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que é repassada a todos os consumidores nas tarifas.
A Aneel revisou a previsão da CDE para R$ 49,2 bilhões em 2025, acima dos R$ 40,6 bilhões estimados inicialmente. O Ministério de Minas e Energia avalia que a ampliação da Tarifa Social pode elevar a conta para os consumidores não beneficiados em 0,9%, mas outras revisões de subsídios da CDE devem compensar esse impacto no médio prazo.
Sérgio Pataca defende a isenção para as camadas mais pobres, mas acredita que o custo deveria ser transferido ao Tesouro Nacional de forma gradual, atualmente pressionado financeiramente. Ele critica a CDE por se tornar um instrumento para interesses políticos e cita o subsídio para geração distribuída (energia solar local), que beneficia sobretudo a classe média com maior poder aquisitivo. Victor IOcca também propõe revisão da CDE e alerta: "[A MP 1.300/2025] dá com uma mão e retira com duas no médio a longo prazo, porque voltará como inflação, desemprego ou não criação de empregos".
Inflação do gás natural industrial supera ainda mais o IPCA
O estudo da Abrace também apontou que o gás natural utilizado na indústria, diferente do gás de cozinha (GLP), teve alta de 2.251% entre 2000 e 2024, quase sete vezes acima do IPCA.