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Aumento nos moradores em situação de rua em BH expõe realidade de insegurança alimentar
Estudo revela que 10% dos moradores em situação de rua dependem de restos e doações para se alimentar.
Ademílson Santos, de 42 anos, vive em uma maloca na praça Gabriel, no bairro Nova Suissa, região Oeste de BH. A um metro dali, uma panela e um pacote aberto de macarrão instantâneo revelam a última refeição preparada. O alimento ultraprocessado, desaconselhado por especialistas para o consumo frequente, escancara a realidade de quem vive nas ruas: comer o que tem, quando tem. E o número de pessoas que enfrentam essa incerteza alimentar tem crescido em Belo Horizonte.
Crescimento da População em Situação de Rua
Os últimos dados oficiais que estimaram a população de rua de Belo Horizonte foram divulgados em 2024, com resultados de 2022, quando eram 5.300 moradores. No entanto, esses dados já estão defasados. Para a coordenadora da Pastoral de Rua da Arquidiocese de BH, Claudenice Rodrigues Lopes, o crescimento da população em situação de rua é inegável. "A gente percebe a olhos nus, no cotidiano", afirma. Segundo ela, a instituição atendia, em média, cinco a sete novas pessoas por semana em 2022. Hoje, esse número chega a dez. "Não dá para precisar exatamente, mas é certo que está aumentando", ressalta.
Insegurança Alimentar
Os dados sobre a população de rua são do IV Censo de População em Situação de Rua de Belo Horizonte – 2022, realizado pela prefeitura em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A pesquisa também revelou dados sobre a dificuldade alimentar desse grupo de pessoas: para 10% dos entrevistados, doações e restos de comida são as principais formas de conseguir comida. Apesar da disponibilidade de refeições em abrigos e restaurantes populares, 7,2% sobreviviam de pedidos por comida nas ruas, e 3,2% tinham como principal fonte de comida a coleta de restos em ruas e feiras.
Impactos na Saúde
Além da fome, Ademílson enfrenta um obstáculo extra para conseguir comida: a restrição de mobilidade, após perder as pernas em um acidente há cerca de dez anos. A privação alimentar e a falta de acesso a refeições equilibradas impactam diretamente a saúde de quem vive nas ruas. A nutricionista Melissa Luciana de Araújo, doutora em Saúde e Nutrição e integrante do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de Belo Horizonte, afirma que a fome pode causar mudanças psicológicas e psiquiátricas, deixando o indivíduo apático e depressivo, além de aumentar o risco de doenças como pressão alta, diabetes e obesidade.
Restaurantes Populares como Salvação
Em Belo Horizonte, os restaurantes populares são a principal iniciativa desenvolvida pelo poder público para alimentar pessoas em situação de rua. Para 50% desse grupo, esses locais são a principal forma de conseguir comida, conforme dados do IV Censo de População em Situação de Rua de Belo Horizonte. O número de refeições gratuitas distribuídas a moradores em situação de rua cresceu 38,34%, saltando de 452.213 em 2019 para 625.612 em 2024.
Desafios a Serem Enfrentados
Embora os restaurantes populares ofereçam uma "alimentação de qualidade", existem dificuldades de acesso. Claudenice Rodrigues Lopes destaca que muitas pessoas não conseguem sair de onde estão devido à sua situação de vulnerabilidade. Além disso, as filas para conseguir a refeição são longas, sem abrigo do sol ou da chuva, o que pode tornar o processo ainda mais difícil para quem já enfrenta tantos desafios.
Esforços para o Futuro
A Prefeitura de Belo Horizonte reafirma seu compromisso de manter as refeições nos restaurantes populares ao preço de R$ 3, além da gratuidade para os moradores em situação de rua. Iniciativas de apoio alimentar para moradores em situação de rua estão sendo promovidas por meio de entidades assistenciais e abrigos cadastrados, que contam com o apoio de nutricionistas que elaboram cardápios com supervisão.
Caminhos para a Inclusão
Garantir uma alimentação digna para pessoas em situação de rua exige um esforço conjunto entre poder público, terceiro setor e sociedade civil. A nutricionista Melissa Luciana de Araújo ressalta que a insegurança alimentar deve ser combatida por meio de políticas públicas integradas que promovam moradia, saúde e inserção no mercado de trabalho, enfatizando que todos têm direito a acesso a alimentos de qualidade, independentemente da sua situação.