O mercado de produtos de luxo enfrenta dificuldades devido à desaceleração econômica na China e às mudanças no comportamento dos consumidores.
Os indícios desse movimento já eram perceptíveis no começo do ano, entretanto, ganharam mais intensidade nas semanas recentes, após a divulgação dos resultados do terceiro trimestre.
Por Gustavo Carmo
11/11/2024 17:13 · Publicado há 2 mêses
As marcas de luxo estão enfrentando uma diminuição na demanda por seus produtos, refletindo os sinais de enfraquecimento econômico na China e a transformação no comportamento dos consumidores. Este padrão emergiu no início do ano, mas se intensificou recentemente com a divulgação dos resultados do terceiro trimestre.
Sinais de Enfraquecimento
“A recente queda na demanda por produtos de luxo pode, sim, impactar os próximos resultados da companhia do setor, e isso já está acontecendo”, afirmou João Crapina, analista CNPI da Suno Research. Segundo ele, o mercado de alta qualidade está enfrentando desafios devido ao boom pós-pandemia e à crise imobiliária recente na China. O resultado da Louis Vuitton (LVMH) reflete isso, com um recuo de 3% nas vendas do terceiro trimestre, marcando a primeira queda desde a pandemia.
Embora a LVMH tenha apresentado crescimento nos Estados Unidos e Europa, a Ásia, crucial para seus negócios, sofreu uma redução de 16%, o que impediu um aprimoramento nos resultados, conforme explicou o especialista da Suno. A Gucci também foi afetada no início do ano pelo "efeito China", o que impactou suas vendas e ações.
Mudanças no Comportamento do Consumidor
Outros fatores também estão influenciando a demanda e, consequentemente, os resultados das marcas de luxo. “Houve uma mudança no perfil do consumidor, a exemplo da Geração Z e Millennial, que consomem e redefinem o luxo. Eles se interessam em marcas que tenham propósitos e que suas causas se relacionem à sustentabilidade”, apontou Mariana Cerone, professora de Estratégias do Varejo Omnichannel da ESPM.
Uma pesquisa da Bain & Company já previa uma leve desaceleração no setor, devido à "vergonha do luxo" percebida pelos consumidores, enquanto os mais jovens têm postergado gastos em bens de luxo devido ao aumento do desemprego e à incerteza no futuro.
Adaptação e Queda de Mercados
Mariana Cerone também observou que este tipo de empresa tradicionalmente dependia das lojas físicas. Com a pandemia, as marcas se viram obrigadas a se reinventar e se adaptar ao meio online, ainda estando em fase de adaptação.
O setor pode continuar a desacelerar devido à queda em mercados-chave, como a China, além de serem afetados pela pressão inflacionária e cambial. Este cenário também reflete nos balanços e no patrimônio de alguns bilionários proprietários de marcas de luxo, como LVMH, L’oréal e Kering, dona da Gucci.
Impacto nos Bastidores
Segundo o índice de bilionários da Bloomberg, Bernard Arnault, dono do grupo de luxo LVMH — que inclui marcas como Louis Vuitton, Dior, Sephora e Moët & Chandon — perdeu US$ 5 bilhões, aproximadamente R$ 29,3 bilhões, de seu patrimônio no trimestre encerrado em outubro. Além disso, no mês passado, Arnault viu seu patrimônio diminuir R$ 34 bilhões em um único dia devido à crise na China.