{{noticiaAtual.titulo}}

Fonte da imagem: https://medias.itatiaia.com.br/dims4/default/e2162ad/2147483647/strip/true/crop/1200x630+0+23/resize/1200x630!/format/webp/quality/90/?url=https%3A%2F%2Fk2-prod-radio-itatiaia.s3.us-east-1.amazonaws.com%2Fbrightspot%2Ff6%2F6c%2Fd1a27a9941bfb640e2f2f9b18cc
Espécies endêmicas do campo rupestre enfrentam ameaças devido a mudanças climáticas e uso do solo
Estudo revela que o aumento da temperatura e ações humanas favorecem plantas invasoras, comprometendo a biodiversidade e a germinação das espécies nativas
Campos rupestres são ecossistemas montanhosos brasileiros reconhecidos pela alta biodiversidade e condições ambientais específicas. Uma revisão científica publicada na revista Journal of Mountain Science destaca que a diversidade dessas áreas enfrenta sérios riscos atualmente. Apesar de suas plantas serem adaptadas a condições extremas, como solos pobres e intensa radiação solar, o impacto humano tem causado ameaças crescentes a esses ambientes.
Impacto das mudanças climáticas na germinação das plantas
Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), da Universidade Nacional de Córdoba (Argentina) e do Centro de Investigaciones sobre Desertificación (Espanha) investigaram os efeitos do aquecimento global e das alterações no uso do solo sobre a germinação de plantas nesses campos.
O estudo indica que o aumento da temperatura e as modificações ambientais favorecem a germinação de espécies invasoras, prejudicando as plantas nativas. Essa redução na capacidade de germinação das espécies locais compromete a produção de alimentos, os polinizadores e as interações essenciais para a manutenção da complexa rede ecológica nas montanhas.
Conforme explicado por Geraldo Wilson Fernandes, coordenador do Centro de Conhecimento em Biodiversidade (Biodiv) e professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, "No alto das montanhas, um leve aumento de temperatura pode ajudar as sementes a germinar, melhorando a sua capacidade de brotar. Porém, se a temperatura aumenta mais do que o esperado pelas plantas nativas do topo das montanhas, essas plantas, que não estão acostumadas àquela condição, podem não se adaptar a tempo".
Efeitos do manejo do solo e características das sementes
A pesquisa também revelou que o manejo do solo realizado pelo homem influencia diretamente o surgimento das plantas, favorecendo aquelas que conseguem germinar na ausência de luz. Fernandes destacou que há riscos de perda da camada natural e soterramento do solo devido ao uso de máquinas agrícolas e outras atividades, o que pode impactar negativamente a germinação das sementes nativas.
Segundo o pesquisador, "O processo pode atrapalhar a germinação de algumas sementes que precisam de luz. Mostramos que a ausência dessa luz reduz a germinação de espécies nativas em até 90%, com impacto mais severo entre as endêmicas. Já as invasoras não foram afetadas pela escuridão, indicando maior adaptação a distúrbios do solo, como os causados por atividades humanas".
O estudo também analisou a relação entre mudanças climáticas e o tamanho das sementes, constatando que sementes pequenas, mais sensíveis à luz e temperatura, podem germinar rapidamente, mas perdem essa capacidade quando soterradas. Em contrapartida, sementes maiores germinam mais lentamente, porém apresentam maior resistência às mudanças ambientais.
Walisson Kenedy-Siqueira, professor do Departamento de Biologia Geral da Unimontes, afirmou: "as sementes maiores aguentam melhor as mudanças do ambiente, podendo gerar brotos mais vigorosos. De forma alarmante, o estudo mostrou a necessidade de realizarmos monitoramento contínuo de áreas perturbadas, de desenvolvermos estratégias de restauração ecológica que considerem as necessidades específicas de germinação das espécies nativas e de criarmos políticas públicas para reduzir impactos antrópicos resultantes de atividades como mineração e expansão urbana desordenada".
Conclusões e recomendações para conservação
Wallison acrescentou que os resultados evidenciam a vulnerabilidade do campo rupestre, destacando que "a conservação desse ecossistema requer ações urgentes para mitigar os efeitos combinados das mudanças climáticas e da perda de habitat".