O ator Tahar Rahim interpreta Charles Aznavour desde o início da juventude até a maturidade no filme que estreia hoje nos cinemas brasileiros.

Infância e trajetória inicial

Charles Aznavour teve uma infância marcada pela pobreza, mas rodeada pelo carinho dos pais e da irmã, imigrantes armênios em Paris. Desde cedo, imerso numa cultura musical, iniciou sua carreira artística, embora tenha levado tempo para alcançar o sucesso.

Antes de se tornar um ícone, Aznavour enfrentou críticas severas em seu país, que o consideravam baixo (1,67m), feio — motivo pelo qual fez cirurgia no nariz — e dono de uma voz rouca inadequada para cantar. Além disso, manteve uma relação complexa com Édith Piaf, a maior cantora francesa, abrindo suas turnês sob vaias do público e tendo morado com ela por dois anos na década de 1950.

O filme e sua abordagem

O longa-metragem "Monsieur Aznavour", dirigido por Mehdi Idir e Grand Corps Malade, estreia nesta quinta-feira (24/7) nos cinemas do Brasil. O filme mostra um Aznavour obcecado pelo sucesso, que coloca suas ambições à frente de amizades e laços familiares, como quando rompe com o pianista Pierre Roche para seguir carreira solo e não interrompe seus shows mesmo no dia da morte do filho, que se suicidou.

Apesar de retratar a obstinação do artista, o filme foi idealizado pelos filhos de Aznavour e contou com indicação dos próprios diretores pelo cantor. No entanto, essa ênfase intensa na ambição do cantor colore o personagem como um homem de negócios, deixando de lado o lado sensível e respeitador do artista para com seu ofício, público e palco.

Aspectos destacados no filme

O filme explora a mudança do sobrenome original Aznavourian para Aznavour, simbolizando a assimilação dos imigrantes na França. Também evidencia a inovação das letras de Charles Aznavour, que deram uma roupagem coloquial e elaborada à chanson française, incluindo a composição audaciosa da canção "Comme ils disent" (1972), do ponto de vista de um homem gay, um tema tabu na época.

Entre as músicas apresentadas estão clássicos como "Désormais", "Je m’voyais déjà", "La Bohème" e "Formidable". "Monsieur Aznavour" não se aprofunda muito nas relações amorosas do cantor, mas deixa claro que ele foi um conquistador pouco fiel.

Contexto histórico e legado

O filme abre e fecha com imagens documentais do êxodo armênio de 1915 e mostra cenas de pessoas em várias capitais onde Aznavour se apresentou, incluindo o Rio de Janeiro, ressaltando sua origem como filho de sobreviventes e seu papel como símbolo cultural francês globalmente.

As cenas finais apresentam o verdadeiro Charles Aznavour sorridente no palco, lembrando aos fãs a figura mais carismática que o filme não conseguiu retratar completamente.

Informações adicionais

O codiretor Grand Corps Malade adotou seu nome artístico após um grave acidente que quase o deixou paraplégico, superando o prognóstico com esforço e reabilitação, história que inspirou seu filme "Pacientes" (2016).

"MONSIEUR AZNAVOUR" (França, 2024, 135 min.), direção de Mehdi Idir e Grand Corps Malade, com Tahar Rahim, Camille Moutawakil, Bastien Bouillon e Marie-Julie Baup. Estreia em Belo Horizonte no Ponteio (Sala 2, às 16h05 e 21h) e no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Sala 2, às 20h10 nos dias 24/7, 26/7, 28/7 e 30/7).